A inspiração pode vir de inúmeras fontes: acontecimentos, palavras, sentimentos, arte e, sobretudo, pessoas. O soneto abaixo foi inspirado por Florbela Espanca, pela temática da morte, e pelas sensações, tais como a tristeza e a solidão, encaixadas nos seus poemas. Na poesia de Florbela Espanca, a Lua é ligada à morte, à feminilidade, também é considerada a companheira dos artistas, dos que não podem encontrar o seu lugar no mundo e dos que foram rejeitados. Convém explicar que o meu poema não segue todas as regras dos sonetos clássicos, tratei a forma do soneto de um modo plástico e, por isso, Açucenas brancas constitui a minha própria interpretação desta composição poética.
Açucenas brancas
Morreu o Sol, jaz no mar profundo,
O luto foi só um fulgor breve;
O silêncio envolveu todo o mundo,
Apenas soprava um vento leve.
E a flor das ondas nasceu, a Lua,
O rosto prateado da Morte,
A índole dela seminua;
A que os mortais, se tiverem sorte,
Confessam tantas mágoas e penas,
Revelam as lágrimas e falhas;
Regressam com brancas açucenas.
E no remate da Noite escura,
Quando se aproxima a Aurora branca,
A má Saudade o seu peito fura.
Doutoranda em literatura portuguesa na Universidade de Varsóvia, com investigação centrada na literatura dos Açores. Apaixonada por línguas estrangeiras e pelo encontro com novas culturas. Admiradora do mundo romano antigo e entusiasta das línguas minoritárias. Poeta autoproclamada desde os tempos do liceu e orgulhosa mãe de duas gatas: Mrusia e Mania.