Os sonhos são uma fuga da realidade. Mas no final, cada sonho tem o seu fim. Onde está a linha entre o sonho e a realidade? Quanto do que vemos e do que vivemos realmente existe? A madrugada e a borboleta são símbolos de um novo começo, de uma segunda oportunidade e de esperança. Esperamos que a fantasia transforme a triste realidade em algo mágico.
Luzes de madrugada
Saí de manhã cedo,
ainda envolto num sonho enevoado,
as mãos a afagar a relva molhada,
rebentava debaixo dos meus dedos.
Colhi mais duas flores
e sentei-me.
Sentei-me com a cara virada
para leste.
Estava a ver o sol nascer.
Sentia como os raios dourados,
acariciavam as bochechas frias.
Via as filhas do céu
a subir em voo,
gotas de orvalho caindo das árvores.
Estava a observar o nascer do sol.
Arrancava pétalas de dentes-de-leão,
os raios aqueciam o meu rosto,
piscava os olhos, era tão luzente.
Estava a ver o sol nascer
e quando olhei para cima,
desconfiei!
Não havia sol nenhum.
Para que estava eu a olhar?
Sonho de Zhuangzi
“Once upon a time, I dreamt I was a butterfly, fluttering hither and thither, to all intents and purposes a butterfly.
I was conscious only of my happiness as a butterfly, unaware that I was myself.
Soon I awaked, and there I was, veritably myself again. Now I do not know whether I was then a man
dreaming I was a butterfly, or whether I am now a butterfly, dreaming I am a man.”
― Zhuangzi, The Butterfly as Companion: Meditations on the First Three Chapters of the Chuang-Tzu
Sonhei que era uma borboleta lúcida,
dançando entre as pétalas da magnólia.
Podia repousar nas flores delicadas
e não pensar nas dificuldades da vida.
Deixei o vento levar-me para o céu,
o corpo pequeno cheio de felicidade.
As lágrimas eram apenas um mito,
nada havia em mim de humanidade.
Despertei com o coração a tremer,
o peso das asas ainda estava lá
e a doçura do néctar ficou na boca.
Foi tudo isso que vivi uma mentira?
Ou serei eu uma borboleta a sonhar
que é um homem e não ao contrário?
Estudante do terceiro ano da licenciatura do Instituto de Estudos Ibéricos e Ibero-Americanos da Universidade de Varsóvia. Poeta autoproclamada desde a escola secundária. Guiada pela paixão de aprender línguas e de descobrir novas culturas. Orgulhosa mãe de duas gatas que gosta de pôr os seus sentimentos no papel.